Na construção de um ser humano, o ser vem antes do fazer e do ter. No entanto, fatores sociais e familiares muitas vezes dificultam essa constituição plena. O mundo contemporâneo nos condiciona a acreditar que a felicidade está na aquisição de bens materiais, o que intensifica a competição, a inveja, a voracidade, o ativismo, a desconfiança e o isolamento afetivo.
Se uma pessoa não está conectada com sua interioridade — sua vida mental, seus sentimentos
mais profundos e a origem deles —, ela não se sente dona de si mesma. Nossa interioridade é
nosso maior tesouro. Para que haja equilíbrio, afetividade e razão precisam caminhar juntas.
As exigências externas, como as da sociedade, da cultura e da família, muitas vezes nos
afastam dessa conexão interna. Dependendo da intensidade dessa desconexão, pode surgir
um vazio existencial, uma sensação de falta de autenticidade e sentido na vida.
O psicanalista Donald Winnicott definiu esse estado como futilidade, um conceito que
descreve a ausência de interioridade e de uma vida mental rica.
Exterioridade x interioridade
Na sociedade atual, o ter frequentemente se sobrepõe ao ser. As redes sociais reforçam esse
padrão, promovendo estilos de vida idealizados que induzem comparações constantes e um
ciclo de exigências: é preciso insistir, vencer sempre, superar tudo a qualquer custo.
Em vez de desenvolver a própria identidade e buscar experiências autênticas — seja nas
relações familiares, amizades ou crescimento profissional —, muitas pessoas se veem presas à
necessidade de acumular mais para se sentirem completas. Mas essa completude nunca
chega. Às vezes, é tão nobre desistir quanto insistir. Nem tudo vale a pena ser mantido, e
insistir em situações fracassadas pode ser um grande equívoco.
Outro risco é a desconexão da própria essência. Quando não encontramos nossa voz e apenas
repetimos discursos prontos, corremos o risco de adoecer emocionalmente. Transtornos como
ansiedade, depressão e somatizações são algumas das manifestações desse processo.
O vazio e a sensação de irrealidade — a impressão de ser falso ou de que pode ser
“desmascarado” a qualquer momento — são, segundo Winnicott, sinais de uma dificuldade
mais profunda: a incapacidade de se sentir verdadeiramente vivo e real.
O papel da análise na busca do verdadeiro eu
Para viver com autenticidade, é essencial conhecer nossas necessidades psíquicas e, a partir
delas, identificar nossos desejos verdadeiros. Saber reconhecê-los, buscá-los e nutrir-se ao
satisfazê-los é o que dá sentido à vida.
Muitas pessoas passam a existência se protegendo de supostos ataques internos e externos,
escondendo-se de si mesmas e fugindo de seus conteúdos psíquicos. Mas essa não é uma vida
plena — é uma existência limitada e fragmentada.
A análise psicanalítica é um processo desafiador, que exige tempo e energia, mas que
transforma. A cada sessão, descobrimos aspectos sobre nós que, sozinhos, jamais
acessaríamos. O inconsciente se revela no processo analítico, e é por meio dele que nos
tornamos, de fato, quem somos.
Você está pensando em tratar questões como essa ou de outra natureza, mas tem dúvidas se
análise é para você? Sugiro a leitura do texto sobre POR QUE FAZER ANÁLISE.