Por que fazer terapia? Reflexões sobre coragem, medo e transformação.

A decisão de fazer terapia é, muitas vezes, cercada de dúvidas, receios e,
sobretudo, coragem. Afinal, o que leva uma pessoa a buscar terapia? E o que a
impede de dar esse passo? Essas perguntas são importantes porque tocam nas
camadas mais profundas de nossa história e emoções.

O ponto de partida para muitas pessoas é uma inquietação. Um desconforto interior,
uma insatisfação com o que estão vivendo, que as move em busca de respostas.
Para outras, porém, o medo se torna uma barreira. Medo de revisitar dores, de
expor vulnerabilidades ou até mesmo de serem julgadas – por outras pessoas ou
por si mesmas. Muitas vezes, esse receio é um eco de experiências vividas na
infância, quando fomos marcados por sentimentos absolutos e drásticos. A criança
que não se sentia aceita, que julgava a si mesma com severidade ou que foi julgada
por outros, pode carregar esse padrão para a vida adulta, projetando-o no vínculo
terapêutico.

E aqui está uma das grandes belezas – e desafios – da terapia: é inevitável que o
vínculo com o terapeuta traga à tona tudo o que vivemos nos nossos laços
anteriores. Sentimentos de abandono, raiva, competições, invejas… Eles aparecem,
porque fazem parte da bagagem emocional que carregamos. Por isso, escolher um
terapeuta não pode ser uma decisão aleatória. É preciso encontrar alguém com
quem você se sinta minimamente acolhido, alguém em quem você possa confiar.
Essa empatia é fundamental para que o processo terapêutico se torne um espaço
de crescimento, não de retração.

Nas primeiras consultas – geralmente de duas a três sessões iniciais –, paciente e
terapeuta têm a oportunidade de se conhecer. É um momento de avaliar se a
confiança está presente, se há espaço para acolhimento e troca. Afinal, o que
acontece nesse vínculo é um reflexo do que a pessoa vivenciou ao longo da vida. É
ali que a terapia pode transformar, ajudando a pessoa a ler suas experiências de
outra maneira, deixando para trás as visões absolutas e drásticas da infância que,
muitas vezes, a fazem se apequenar diante da vida.

Como terapeuta, aprendi algo precioso ao longo dos anos: saber falar das coisas
mais difíceis com firmeza e acolhimento. Essa foi uma conquista construída a partir
das minhas próprias experiências como paciente, quando muitas vezes senti os
meus terapeutas sendo duros comigo. Hoje, acredito que é possível abordar até os
temas mais delicados de forma leve e suave, sem que o outro se sinta atacado. É
um equilíbrio que cria um ambiente seguro para que as mudanças aconteçam.
Fazer terapia é um ato de coragem. É enfrentar o desconforto e, ao mesmo tempo,
abrir-se para descobrir novos caminhos e narrativas. Porque, no fim das contas, o

processo terapêutico não é sobre consertar o passado, mas sobre aprender a viver
melhor o presente e olhar para o futuro com mais possibilidades.
Se você sente uma inquietação ou um desconforto, talvez seja o momento de dar
esse passo. Não há nada de pequeno em buscar ajuda; pelo contrário, é um gesto
que pode transformar sua relação com o mundo – e com você mesmo.

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